terça-feira, agosto 15

Feira da Música - Vozes Dissonantes - Jornal do Nordeste

FEIRA DA MÚSICA
Vozes dissonantes
12/08/2006


Dalwton Moura

Além do lançamento da feira nacional de 2007 e do Portal Música do Brasil, a Feira da Música também foi palco de uma reunião do Fórum Nacional de Música. Integrantes do Fórum aproveitaram a presença de Gilberto Gil e cobraram do ministro a implantação de iniciativas discutidas em 2005, nas Câmaras Setoriais de Música, bem como a participação do Fórum na Feira Música Brasil. Gil subiu o tom: “Se convidem. Se vocês forem recusados, aí venham ao ministro. Por que botar o carro na frente dos bois?”

Durante a solenidade da última quinta-feira, no auditório do Sebrae, a apresentação do portal Música do Brasil (www.musicadobrasil.org.br) ficou a cargo do diretor-presidente da Associação Brasileira de Música Independente, Carlos Andrade, que com o auxílio de um data-show detalhou diversas seções do novo portal, destinado a oferecer a artistas e produtores subsídios para facilitar a exportação da música brasileira.


Em um caminho de mão-dupla, também a oferecer a produtores estrangeiros uma verdadeira central de informações sobre todos os elos da cadeia da música no Brasil. “A missão do portal é servir para capacitar todos os profissionais, para melhorar as chances de trânsito pelo universo da música no Brasil e no exterior”, resumiu Andrade, citando a parceria entre o Ministério da Cultura e entidades como Brazil Music & Arts, Sebrae e a própria ABMI para viabilizar o portal.

Na demonstração do link “Feiras e Festivais”, certo constrangimento após uma interferência da platéia. “Temos aqui eventos como a Feira da Música. E temos uma ação permanente com a Popkomm (feira na Alemanha), para a qual vocês todos estão convidados”, disse Carlos Andrade. Para contraponto do cantor Genésio Tocantins, que gritou do público: “Você paga a passagem? Nós fizemos 48 horas de Tocantins pra cá”. Para Andrade retrucar: “Não tem passagem de graça, mas, se você for, pode ser que no ano que vem você volte de graça. E que no outro ano você volte ganhando em euro. Então, é preciso investir, entender a música de fato como um negócio”.

Andrade mostrou ainda o espaço dedicado no portal à Feira Musica Brasil 2007, chegando a detalhar que para o evento em Recife serão montados quatro palcos, para 42 shows definidos via edital. “A feira vai ser o que vocês disserem que querem que ela seja. É muito importante que todos entrem no portal e digam o que esperam da feira. E que vocês estejam preparados, com CDs, DVDs, pra ir lá”.

O FUTURO DO MINC

Questionado pelo Caderno 3, o ministro Gilberto Gil negou que o fato de estar trabalhando para uma feira marcada para 2007 implique uma perspectiva de permanência no Ministério da Cultura, a partir de 2007. “A feira não é do Ministério, nem das entidades. É da sociedade. Não deve ser só política de governo, e sim uma política de Estado”, respondeu. Mas há discernimento para tanto no Brasil? “Se não tem, temos que adquirir. Vamos ficar a vida inteira incivilizados?”.

Perguntado sobre sua disposição pessoal em continuar no MinC, em um eventual segundo governo Lula, Gil evitou ser categórico, preferindo falar em “possibilidades”. “Disposto eu estou, o que não quer dizer que eu vá aceitar um convite para continuar”, disse, ressaltando que, a despeito das pesquisas favoráveis, o presidente não estaria em clima de “já-ganhou”. “Temos uma avaliação do nosso trabalho que não é má, é muito boa. O Ministério caminhou bastante. Então, condições para continuar existem. Agora, depende de muitas outras coisas”, declarou, concluindo: “Não é hora de discutir isso”.

“GIL ESCORREGADIO”

Na saída da solenidade, Gil foi abordado pela compositora carioca Ana Terra e por outros integrantes do Fórum Nacional de Música, que participariam de reunião na Feira e cobraram do ministro a implantação de iniciativas discutidas em 2005, nas Câmaras Setoriais de Música, bem como a participação do Fórum na Feira Música Brasil. Gil subiu o tom: “Por que não vão ser convidados? Pois se convidem. Se vocês forem recusados, aí venham ao ministro. Por que botar o carro na frente dos bois?”

A resposta não agradou, segundo Ana Terra. “A grande indústria fonográfica e da mídia vetou todos os avanços para os músicos independentes que foram discutidos nas Câmaras Setoriais pelos fóruns estaduais de músicos. De todas as questões que foram pactuadas em 2005, nada foi feito”, reclamou. “O Gil fica nessa coisa escorregadia. Não queria falar mal do ministro, mas do nosso lado, dos independentes, nada foi feito. Do lado deles, da ABMI, que só fala em nome dos produtores, o Ministério já vai fazer essa feira enorme em Recife, com essa apresentação aqui, que foi como quem mostra espelhinho pra índio”, disparou. A música não escapa à controvérsia.